terça-feira, 20 de abril de 2010

Reforma do ensino básico

Para além da eliminação da frequência obrigatória da escola, criando-se a necessidade de qualificações mínimas para acesso a cada uma das profissões, julgo ser também necessário proceder a uma reforma aos currículos dos Ensino Básico e Secundário.

Quanto ao Ensino Básico, este deverá enfatizar uma sólida formação a Língua Portuguesa e a Matemática. É também importante a aprendizagem de uma Língua Estrangeira (o Inglês, se atendermos à realidade mundial actual). Esta formação nuclear deverá ainda incluir a promoção do exercício físico, com uma disciplina de Educação Física.

As quatros disciplinas anteriormente referidas seriam complementadas com mais três (2º ciclo) ou quatro disciplinas (3º ciclo), garantindo-se uma menor dispersão do aluno por diferentes áreas, com consequentes benefícios no sucesso escolar e na qualidade das aprendizagens. Não vejo qualquer benefício em frequentar muitas disciplinas em cada ano lectivo. Pelo contrário. Ninguém aprende muito só porque recebe informação em formato XL.

Assim, o currículo do 2º Ciclo deveria ser (em blocos de 90 minutos):

Disciplina 5º ano 6º ano
Língua Portuguesa 3 2
Matemática 2 3
Língua Estrangeira I 2 2
Educação Física 2 2
Ciências Sociais e Humanas 2 2
Ciência e Tecnologia 2 2
Expressão Artística (1) 3 3
Formação Cívica (2) 1 1

TOTAL

17 17

(1) O aluno escolheria uma destas: Música, Desenho, Trabalhos Manuais, Teatro ou outra disciplina da área artística. Poderia até ser diferente nos 5º e 6º anos.

(2) Para além das burocracias da turma, serviria para o desenvolvimento de outros projectos no âmbito da Educação para a Cidadania: Educação Rodoviária, Educação Sexual, outros projectos que permitam o desenvolvimento de cidadãos responsáveis conscientes não só dos seus direitos mas também dos seus deveres, etc.

Quanto ao 3º Ciclo, seria (também em blocos de 90 minutos):

Disciplina 7º ano 8º ano 9º ano
Língua Portuguesa 3 2 3
Matemática 2 3 3
Língua Estrangeira I / II 2 2 2
Educação Física 2 2 2
Ciências Sociais e Humanas 2 2 2
Ciência e Tecnologia 3 3 2
Opção I (3) 2 2 2
Opção II (3) 2 2 2
Formação Cívica (2) 1 1 1

TOTAL

19 19 19

(3) O aluno escolheria duas disciplinas: LE II, LE III, Expressão Artística (ver nota(1)), TIC, etc.

Note-se que propositadamente retirei a Educação Moral e Religiosa do currículo. Não por qualquer preconceito mas porque entendo que essa é uma obrigação exclusiva de cada uma das confissões religiosas. Apesar das nossas raízes judaico-cristãs, que não devemos esquecer nem delas nos envergonhar, não nos esqueçamos que o estado é laico. Como tal deve haver separação.

Motivação para progredir

Como medir a motivação? Como a promover? Qual é o “botão” que se deve premir para a “ligar”? Não é uma questão fácil de responder. E põe-se sempre a questão: o que é progredir? Certamente que a resposta depende de quem a dá.

Como professor, deparo-me diversas vezes com este problema. Nem sempre é fácil de resolver. Nem sempre as pessoas querem progredir… Bom, querer, querem. Não estão é preparadas ou com vontade de “pagar o preço” necessário: esforço e dedicação. Existem muitos atractivos a competir.

Vem isto a propósito da escala classificativa (dita qualitativa) utilizada na avaliação dos alunos a frequentar o Ensino Básico. Não é uma escala motivante. De modo algum. E porquê? Porque ter uma avaliação de 50% ou de 65% , traduz-se numa classificação final de 3 valores. Assim, não existe uma vantagem real em esforçar-se por melhorar, visto que no fim vai dar ao mesmo: 3 valores. Importa, então, mudar a escala.

Entendo que, qualquer que seja o nível de ensino, as classificações devem ser numa escala de 0 a 20 valores. Pegando no exemplo anterior, o aluno de 50% seria classificado com 10 valores, mas o aluno de 65% teria 13 valores. Bem diferente! E com a vantagem, para os alunos, de poderem mais facilmente alcançar o nível seguinte.

Motivação para progredir …

Problema? A escola é solução.

Está na moda (já algum tempo) empurrar para a escola a resolução dos problemas. Senão vejamos:

1) Os jovens iniciam precocemente a sua vida sexual e não tomam cuidado? Dás-se-lhes educação sexual nas escolas.

2) O português conduz mal e sem civismo? É fundamental proporcionar aos jovens educação rodoviária.

3) A malta pensa pouco (ou não pensa coisa nenhuma)? Dever-se-ia iniciar o ensino da Filosofia no ensino básico.

4) O squash é uma modalidade com pouca expressão? Forma-se já um núcleo de squash em cada escola.

5) As (algumas) juventudes partidárias têm dificuldade em recrutar pessoal? Há que dinamizar imediatamente a participação activa das crianças e jovens para consciencializá-los da necessidade de uma participação activa e empenhada na resolução dos desafios que se põem ao país (a 1ª lição é como se tornar um carneiro em 5 minutos).

E mais exemplos haveriam.

Assim, urge modificar os currículos escolares. Para que se tornem modernos e capazes de responder aos desafios que a sociedade actual nos põe, deveriam ser algo do género:

Disciplina

Duração Semanal

Educação Sexual (1)

2 x 90 min

Educação Rodoviária (2)

3 x 90 min

Pensar o chefe local

3 x 90 min

Política Hoje

5 x 90 min

Direitos Individuais

2 x 90 min

Deveres dos Outros

2 x 90 min

Jogos de Bastidores

2 x 90 min

Actividades Culturais e Desportivas

4 x 90 min

Actividades de Enriquecimento Curricular (3)

1 x 90 min

(1) Inclui dicas sobre como se tornar um Casanova.

(2) Inclui carta de lambreta após conclusão do 9º ano.

(3) Português falado (calão e vernáculo de preferência) e escrito (utilizando palavras com o máximo de três letras), Contar pelos dedos, Inglês (recorrendo a filmes de fácil compreensão, tipo Terminator), Estímulo Cerebral (com recurso à PSP e análogos), História (das farras passadas e da vida alheia), Geografia (da miúda que vive no 3º E), Ciência (para totós) e outras coisas irrelevantes que só servem para ocupar os tempos livres.

Escolaridade obrigatória (2)

Ainda a propósito deste tema, lembre-me-nos que, no n.º 3 do art.º 2º da Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei n.º 49/2005, de 30 de Agosto), pode ler-se:

No acesso à educação e na sua prática é garantido a todos os portugueses o respeito pelo princípio da liberdade de aprender e de ensinar, com tolerância para com as escolhas possíveis”.

Na alínea a), dos referidos n.º e art.º, diz-se ainda que:

O Estado não pode atribuir-se o direito de programar
a educação e a cultura segundo quaisquer directrizes filosóficas, estéticas, políticas, ideológicas ou religiosas
”.

Como é possível respeitar aqueles princípios quando se diz que “O ensino básico é universal, obrigatório e gratuito
e tem a duração de nove anos”
(art.º 6, n-º 1)? Onde está o “respeito pelo princípio da liberdade de aprender e de ensinar”? Não será isto programar a educação segundo directrizes políticas ou ideológicas?

A mim parece-me uma evidente contradição.

Escolaridade obrigatória (1)

Actualmente existe um modelo de escolaridade obrigatória em Portugal no qual os jovens são obrigados a permanecer na escola durante 9 anos ou 12 anos para quem iniciou o 7º ano de escolaridade este ano. O problema deste modelo é que não "obriga" a aprender mas apenas exige a permanência na escola, como se esta fosse um local de lazer. Discordo totalmente. A escola deve ser de frequência facultativa.

Entendo que toda a gente deve ter acesso à educação em iguais condições. Contudo compete a cada um decidir se a quer ou não. Pode argumentar-se que as crianças e jovens não têm maturidade suficiente para decidir, mas a verdade é que todos eles têm encarregados de educação (e, maioritariamente, pai e mãe) que sabem (deverão saber) o que é melhor para os seus educandos/filhos.

Põe-se então a questão de como garantir que as crianças e jovens (e também os adultos) obtêm a formação e as qualificações necessárias para enfrentar os desafios da vida? Impõem-se qualificações mínimas. Por exemplo ninguém poderá ter acesso à carta de condução sem ter concluído com aproveitamento o 9º ano de escolaridade ou terá de ter concluído com aproveitamento o 12º ano para ser polícia, e por aí adiante.

A diferença poderá ser pequena, mas é estrutural. A educação/instrução passaria a ser uma necessidade e não uma obrigação. Estou certo (se é que se pode ter certeza de alguma coisa) que melhoraria o ambiente nas salas de aula e os resultados da aprendizagem também.

As raparigas e o ensino

Aparentemente as raparigas estão a suplantar os rapazes na escola. Obtêm melhores notas, têm melhor comportamento e são em número cada vez maior no ensino superior. Pelo contrário os rapazes parecem estar cada vez mais desmotivados para a escola e para a obtenção de formação e qualificação.

Recentemente, ouvi alguém argumentar que tal devia-se ao sistema educativo estar mais adaptado ao perfil das raparigas. Os rapazes seriam, por natureza, mais rebeldes, mais contestatários, e isso reflectir-se-ia no seu aproveitamento. Além disso o excessivo peso dado (na avaliação) às atitudes do indivíduo também beneficiaria as raparigas. Tenho de concordar que actualmente valoriza-se demais o saber estar ao saber em si. E se é verdade que é importante saber ser e estar, para ser um bom profissional também é essencial saber e conhecer. Ninguém é contratado só por ser bem educado, mas sobretudo por saber fazer aquilo que se lhe pede.